COPA DO MUNDO
O uso de dinheiro público nos preparativos da Copa do Mundo e a falta de investimentos em serviços essenciais do país revoltaram os brasileiros.
Em julho de 2010, o jurista Ives Gandra já previa uso de dinheiro público nos preparativos para a realização da Copa do Mundo em nosso País. Porém, o Brasil e o mundo foram surpreendidos com a transformação da promoção da Copa do Mundo em um estopim da revolta popular nunca visto na História do Brasil. Apesar de o artigo ter sido escrito há três anos, o assunto ainda é atual e vale a pena ler.
ARTIGO DE IVES GANDRA
Artigo Dr. Ives Gandra publicado no
Jornal do Brasil , em 01.07.2010
Como contribuinte em um
País em que a saúde, a educação e serviços públicos essenciais
deixam a desejar, sou
contrário a que se desvie dinheiro público -ou seja , dos
contribuintes-, para
construção de elefantes brancos que serão utilizados para 3 ou 4 jogos
da Copa de 2014.
Todos nós temos
consciência -aqueles que se preocupam pelas finanças públicas das
entidades federativas do
Brasil- que apesar de a carga tributária atingir a fantasmagórica
cifra de 37% do PIB (entre
tributos e penalidades, que constituem a obrigação tributária,
nos termos do art. 113 do
Código Tributário Nacional), sabem que grande parte dela é
dirigida apenas para
remuneração dos servidores públicos, que , em nível de vencimentos
e aposentadorias , estão
muito acima dos cidadãos do segmento privado, que,
sem gozarem de
estabilidade, sofrem para ganhar o pão nosso de cada dia. Veja-se o
que foi dedicado no
orçamento para o Bolsa Família, 12 bilhões de reais , que atende a
11 milhões de
pessoas, enquanto aquilo que se oferece a menos de 1 milhão de
servidores federais, chega
a 183 bilhões de reais. E, apesar desta cifra, aumentos de até
56% estão sendo outorgados
aos que deveriam servir à nação e , na verdade, se servem
dela, sendo fartamente
remunerados por nossos tributos.
Nada obstante, a carga
tributária ser tão elevada, o investimento público para o
desenvolvimento caiu 4 vezes
, em relação ao período em que a carga situava-se em 24%,
como informou Delfim
Netto, em palestra que proferimos juntos. Hoje, 37% do PIB
geram um investimento
público de 1% ; antes, 24% geravam um investimento de 4%
em relação ao mesmo
PIB!!!
Todos nós temos
plena consciência de que o SUS deixa a desejar, que o sistema de
educação é sofrível, que a
infraestrutura do País não comporta um desenvolvimento mais
acelerado e que , se os
governos gastassem menos em despesas de custeio e com a mãode-obra oficial ,
poderíamos alcançar
desenvolvimento econômico e social muito melhor.
Ora, com todas estas
deficiências , desviar recursos públicos para construção de estádios,
como ocorreu no Rio de
Janeiro, com o Panamericano e a criação deste elefante branco,
que é o Engenhão,
representa, em verdade, desvio de dinheiro essencial para outras
atividades públicas mais
importantes.
Por outro lado, é do
conhecimento geral que tanto a CBF como a FIFA e todo os seus
patrocinadores têm
recursos de sobra, aliás , bem utilizados “pro domo sua” pelos seus
perpétuos dirigentes.
Parece-me fundamental –
como a Folha de São Paulo realçou em um de seus editoriais -
que a CBF, a FIFA,
seus patrocinadores, que são aqueles que organizam as Copas,
utilizem-se seus próprios
recursos , sem tirar o dinheiro do pobre contribuinte, que paga
muito e recebe serviços
públicos de má qualidade.
Creio que um movimento
nacional deve ser organizado, para que se preserve o dinheiro
público destinando-o a
funções relevantes do Estado e que o lazer , representado pelo
esporte , seja financiado
pelos que dirigem o futebol mundial e no Brasil.
Que os candidatos à
presidência e os governadores de Estados não cedam à tentação de
prometer com o chapéu
alheio (dinheiro do contribuinte) auxílio para entidades que , todos
sabemos, nadam em
dinheiro. E que os prefeitos, que têm tão pouco do bolo tributário
nacional, não desperdicem
o escasso dinheiro público que possuem , na construção de
novos estádios. Isto é tarefa das duas
milionárias organizações do futebol internacional e
brasileiro e não do Poder Público.
Categoria: Opinião
Postado: Lucineide Clara de Alencar
Barros