Seleção alemã nos fez refletir sobre nossas mazelas sociais



Derrota brasileira para seleção alemã tem lado positivo. O excelente desempenho dos alemães leva-nos a rever nossas feridas sociais como: educação, crescimento humano, falta de planejamento e conclusão de projetos.
          A derrota da seleção brasileira para seleção alemã foi patética, o país ficou triste. Mas a seleção alemã nos deu uma lição, bateu de 7 a 1,   isto doeu como se fossem chicotadas. Ela nos ensinou que para ser bom é preciso ser preparado, ter responsabilidade e desempenho para não frustrar expectativa do público.
        Este momento de tristeza, de sensação de impotência revelou ao mundo nosso perfil funcional como nação, as nossas dificuldades administrativas na esfera pública, onde se resolve questões de cunho governamental com cordialidade, como se fosse assunto familiar que se decide na sala de estar. A cordialidade brasileira é representada por atitudes autoritárias que transgridem regras e impõe a informalidade.
      Na esfera pública brasileira sempre houve resistência ao excesso de legalidade, porque atrapalha interesses escusos conseguidos pela manipulação burocrática.  O dinamismo também não é bem visto, uma vez que o agente dinâmico exige empenho no cumprimento de tarefas. É comum indivíduos serem perseguidos porque têm a ética como referência balizadora de atividades públicas ou privadas.  Geralmente, chefe ou líder é escolhido não pelas qualidades profissionais, mas pelo perfil flexível, que não exige muito trabalho,  e  ainda  permite verticalização do setor em benefícios diversos.
    Portanto, o jeito brasileiro de viver é resultado da transferência dos valores e procedimentos da vida privada, doméstica, para a esfera pública.  Segundo Sérgio Buarque de Holanda isto é responsável pelas distorções que impedem o desenvolvimento de um Estado Moderno, antifamiliar, impessoal, isonômico, democrático e republicano.  
    Se a lição da seleção alemã fizer-nos refletir sobre nossas mazelas sociais porque estamos com orgulho ferido, já valeu a pena e, provavelmente, apresentaremos excelente futebol na Copa do Mundo de 2018
Categoria: opinião
Imagem da internet
Postado por Lucineide Clara de Alencar Barros

“O Estado não é a continuação da Família, afirma peremptório Sérgio Buarque de Holanda na primeira linha do capítulo sobre o homem cordial do seu clássico “Raízes do Brasil”.



“Há 73 anos, em Outubro de 1936, o “pai do Chico” (como modestamente se apresentava nos últimos anos), identificou a marca diferenciadora da sociedade brasileira. A transferência  dos valores e procedimentos da vida privada, doméstica, para a esfera pública foi, segundo ele, a responsável pelas distorções e disfunções que impedem o desenvolvimento de um Estado moderno, anti-familiar, impessoal, isonômico, democrático. E republicano.A cordialidade que Buarque de Holanda diagnosticou não se situa no âmbito afetivo, sentimental. Não equivale à bonomia e ao bom-mocismo, ao contrário, é tenaz e autoritária, clara transgressão às normas que devem imperar numa organização social sem privilégios. A falaciosa cordialidade contida no postulado  “aos amigos, tudo” é elitista, opressora, preconceituosa, além de nepotista, patrimonialista e, basicamente, corrupta.Informalidade não é prova de avanço ou modernidade, é atraso. Preceitos, regras e leis são formalidades adotadas de comum acordo pela maioria dos cidadãos para garantir o seu bem-estar. O que nos leva à constatação de que nos últimos dias essa incontrolável vocação para a informalidade e para o desapego aos ritos nos levou a uma irregularidade institucional: José Alencar, o presidente em exercício esteve durante muitas horas incapacitado para exercer a sua função.O país ficou sem presidente da República essa é a verdade.  A ninguém ocorreu a idéia de transferir o poder para o presidente da Câmara Federal, Michel Temer (como o previsto no artigo 80 da Cara Magna) embora a opção pela nova cirurgia já estivesse cogitada desde o momento em que José Alencar deixou Brasília para internar-se no Hospital Sírio-Libanês, em S. Paulo.A solidariedade e a simpatia pelo estado de saúde do vice-presidente, somadas talvez a algumas pitadas de superstição, impediram que se cumprisse uma formalidade comezinha, porém indispensável diante do imponderável e das exigências de um Estado organizado.A cirurgia levou quase seis horas, depois da anestesia o paciente foi conduzido à sala de reanimação e em seguida à UTI onde deve ficar dois dias. Embora o primeiro boletim médico emitido nesta sexta-feira tenha garantido que o presidente em exercício estivesse “bem disposto e acordado”, é certo que esteve inconsciente e/ou incapacitado para tomar decisões durante um dia.O regresso do presidente Lula ao território nacional restabelece a normalidade, mas não invalida as preocupações pelo descuido. Sobretudo porque o seu substituto deverá ficar internado dez dias e, além disso, poderá necessitar de novas intervenções já que nem todos os tumores foram retirados.Não cabe à junta médica que assiste a José Alencar determinar se o seu paciente estava capacitado ou não para exercer a presidência da República. Muito menos ao gabinete do presidente Lula. A Constituição prevê a sucessão do primeiro mandatário, mas não estabelece critérios para avaliar as condições físicas ou mentais do Chefe da Nação em exercício.Num Estado não-familiar, efetivamente funcional e institucionalizado, caberia aos chefes do Legislativo e do Judiciário antecipar-se a uma eventual fissura legal, sobretudo porque o presidente em exercício já estivera internado dias antes no mesmo hospital.  Mas o chefe do Legislativo, José Sarney, é um morto-vivo e o sucessor de Alencar finge-se de morto para não ser envolvido na onda de escândalos.

Neste abençoado pedaço do mundo prevalece a informalidade e a cordialidade. Todos são amigos, todos são compreensivos, tolerantes, adversários de ritos, protocolos e códigos. Esta é uma Grande Família comandada por dois bordões - “Deus nos livre!” e “Dá-se um jeito”.





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