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A lei das domésticas aprovada pelo Senado em 26 de março, para garantir aos empregados domésticos os mesmos direitos que os demais trabalhadores traz em seu corpo uma grande transformação cultural. A partir da Lei, o elo de subserviência da mulher ao homem é quebrado pelo reconhecimento legal do trabalho doméstico. Agora, a casa terá nova modalização social devido à quebra das estruturas tradicionais da relação de gênero. Ela traz para a visibilidade a condição das mulheres que sempre viveram na rede de subordinação: do pai, irmão, esposo, filhos e patrões (iniciativa privada ou pública).
O homem, no espaço público, vive todas as experiências da rua sem culpa. Porém em casa tem o perfil de “machão”, desempenha papel de guardião do lar, não deixa a casa ser afetada pelos problemas originados na liberdade da rua. E a mulher, no espaço privado, tem o poder gestor do lar, bem como da religiosidade e da sexualidade. A mulher não se beneficia das delícias da rua, mas não é obrigada provar ao mundo que é forte. Já o homem sofre cobrança e pressão para ser bem sucedido, provedor do lar, ser macho, sem direito de falhar, não pode descuidar dos seus deveres de marido, porque corre o risco de ser “corno”. E, se por acaso apresentar sinais expressivos de feminilidade, coitado! É o fim do mundo!
Esses valores constituíram a rígida divisão de trabalhos entre homens e mulheres no Brasil. Homens jamais realizavam tarefas domésticas, mesmo que fosse banhar o filho ou trocar fraldas. Quando não era feito pela esposa, sempre haveria outra mulher, na condição de empregada, para realizar os trabalhos domésticos de forma a assegurar o conforto dele.
O movimento feminista dos anos 70 que nasceu em sociedades igualitárias (igualdade de direitos) conseguiu alguns avanços sociais que beneficiaram as mulheres. E agora com a Lei das Domésticas esperam-se avanços sociais expressivos, a expectativa é grande. _Vamos nos divertir assistindo o hábito da rua e da casa se misturarem através da realização das tarefas domésticas. “Homens e mulheres são iguais e trabalham na mesma repartição. Mas, se na rua somos todos iguais, como manda o figurino democrático, em casa há outra mulher fazendo o papel de esposa e de mãe – uma babá-, que cuida dos nossos filhinhos, desempenhando o papel das antigas aias, amas e escravas da casa. Essas aias “republicanas” têm a seu lado cozinheiras, lavadeiras, passadeiras, arrumadeiras e copeiras”, afirma Roberto da Matta.
O único problema desta lei está na regulamentação. Como regulamentar o carinho da criança (no caso a babá); o sabor da comida (no caso a cozinheira) e a limpeza da casa? Eis a questão! Como transformar a intimidade do lar em uma empresa? E daí? ...
Fonte: Roberto da Matta, antropólogo - Veja 15/04/2013.
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Casa e rua se misturam!